quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O Povo livre dos lobos



Nas colinas de Seeonee, nas selvas da Índia, vivia uma alcateia de lobos a quem todos chamavam de Povo Livre. Você sabe por quê? Porque a alcatéia tinha uma lei que todos respeitavam e cumpriam, o que tornava seus membros livres e diferentes de todos os outros animais. Akelá, um lobo cinzento grande e solitário, era o líder da alcatéia. Era muito experiente, por isso guiava os lobos nas caçadas e os levava por caminhos seguros, protegendo-os contra os perigos. A alcatéia respeitava Akelá, e Akelá respeitava a lei. Ali perto, nas ruínas de uma cidade abandonada a que os animais da selva, com um certo desprezo, chamavam de “Tocas Frias”, viva o povo dos macacos, os Bandar-log.

Incomodar os outros habitantes da selva era seu passatempo predileto. Trepados nas copas das árvores, gritavam, faziam algazarra e pulavam o dia inteiro.
- Que forma de passar a vida! – comentavam os animais.
- Muito própria de um povo sem lei – acrescentavam os lobos.
Ao entardecer de um dia quente de verão, estavam descansando o pai lobo, Raksha – a mãe loba – e seus quatro filhotes, quando chegou a sua gruta um menino que estava perdido e que andava fugindo de Shere Khan, o tigre manco, que queria comê-lo.

- Olha que coisa estranha! – disse a mãe loba.
- É um filhote de homem! – exclamou o pai lobo.
- Isso é um filhote de homem? – perguntou ela, que nunca tinha visto um.
- Traga-o, para que possamos vê-lo de perto – acrescentou.
Dentro da gruta, o menino se aproximou engatinhando de onde estavam os lobinhos, se acomodou entre eles buscando calor e, como estava muito cansando, acabou dormindo.
- Pobrezinho! – disse o pai lobo – não tem pêlos e é tão frágil que bastaria que eu o tocasse com a pata para matá-lo.


- Vamos acolhê-lo como se fosse um dos nossos filhos e o chamaremos de Mowgli, que significa “a rã” na língua da selva – sussurrou a mãe loba.
- Teremos que apresenta-lo na Roca do Conselho, junto com os demais filhotes – disse o pai lobo, depois de alguns minutos de silêncio.
Algum tempo depois, sob uma formosa lua cheia, a alcatéia se reuniu em torno da pedra onde se realizava o conselho. Shere Khan chegou até ali, em busca da presa, que, segundo ele, lhe haviam roubado. Akelá lhe deu a palavra, embora incomodado pelo tom arrogante com que o tigre pedia para ser escutado, pois a lei determinava que não se podia negar esse direito a ninguém.
- O filhote de homem que a mãe loba apresentou pertence a mim, exijo que me seja devolvido – disse Shere Khan.



- Shere Khan tem razão – disseram a uma só voz alguns dos lobos ali reunidos – “a rã” só nos trará problemas. Fez-se um silêncio tão grande na Roca do Conselho que foi possível ouvi-lo até nas Tocas Frias. Os sapos pararam de coaxar, as corujas de piar e os macacos de murmurar.
- Shere Khan falou – disse Ákela, e acrescentou – agora, como manda a lei que nosso povo respeita, dois membros do Povo Livre que não sejam seus pais têm o direito de falar em defesa do filhote de homem.
- Eu falarei em defesa do filhote do homem – rosnou Baloo, o urso pardo, levantando-se em suas patas – e digo em sua defesa que ele não pode nos fazer nenhum mal. Deixem-no correr em nossas pradarias e, assim como fiz com cada um de vocês, eu mesmo lhe ensinarei a lei.
- Quem fala agora? – perguntou Akelá – Baloo já falou, e ele é o mestre dos nossos filhotes. De novo reinou o silêncio.



- Akelá e demais integrantes do Povo Livre! – e se ouviu a voz de Bagheera, a pantera negra, que havia deslizado respeitosamente até o círculo formado pelos lobos.
- Matar m filhote é uma vergonha – disse enquanto seu olhar astuto e alerta cruzava com os olhos sinistros de Shere Khan – Por outro lado, ele pode ser muito útil nas caçadas, quando for maior. Ao que disse Baloo, e de acordo com a lei, eu quero acrescentar a oferta de um touro que acabo de caçar, a pouca distância daqui. Estão de acordo?
Para os lobos famintos, era muito difícil recusar a oferta de Bagheera. Logo se aproximaram de Mowgli e começaram a fareja-lo, em sinal de aceitação. E foi assim que Mowgli foi recebido pelo Povo Livre. Muitas aventuras aconteceram desde então e até o momento em que Mowgli, já um rapaz, retornou ao povo dos homens.


E para terminar esse post, quem ai já cantou na Alcatéia a música da Bagheera?

Ela é a Bagheera, a pantera negra
Ela é a Bagheera, ensinou Mowgli a caçar.
Seus olhos verdes, enxergam no escuro
E ela é negra como a noite sem luar.
Foi ela quem, na Roca do Conselho,
Com voz macia deu um salto e foi falar:
Direito pra dizer algo eu não tenho,
Mas dou um touro pro garoto aqui ficar.

Ela é a Bagheera, a pantera negra
Ela é a Bagheera, ensinou Mowgli a caçar.
Seus olhos verdes, enxergam no escuro
E ela é negra como a noite sem luar.


Qual o próximo personagem da Alcateia ou outra historia sobre os lobinhos você gostaria de ver aqui no Blog do Lobo Cinzento? Comente abaixo! ;)

Melhor Possível!